Saturday 18 May 2019

Visita a Salem

Durante a estadia da minha mae aqui em Boston nós visitamos a cidade de Salém, aqui pro norte, cerca de meia-hora de casa.
Quem já assistiu ao filme "As bruxas de Salém" sabe que nesta cidade no fim dos 1600 diversas pessoas foram enforcadas por serem consideradas "bruxas". É uma história triste, mas bastante relevante ainda nos dias de hoje. Quanto mais eu aprendo sobre eventos do passado mais eu percebo que como sociedade não avançamos tanto quanto poderíamos, pois a intolerância, preconceito e ignorância continuam a reinar, ainda mais com essa "onda" nojenta de extrema direita e nacionalismo que se alastra pelo mundo todo, que é tão nociva como a extrema esquerda (vide o que está acontecendo na Venezuela).
Mas o do resumo do resumo do que aconteceu em Salém é o seguinte: algumas garotas que não tinham mais o que fazer (literalmente) começaram a inventar que haviam sido "enfeitiçadas" por bruxas que estavam pela comunidade de Salém, e apresentavam sintomas de alguma doença misteriosa. Era um tipo de histeria coletiva, que afetou também a mãe de uma das garotas. Naquela época a medicina era muito rudimentar e nada separada das crenças religiosas. O médico não conseguiu justificar os sintomas e concordou que poderia ser bruxaria. Foi o suficiente para que as pessoas acusadas pelas garotas fossem levadas a julgamento e condenadas a morte. Como de era de se esperar, os julgamentos eram falhos, sem a menor lógica, baseados na reação da população às idéias esdruxulas e empolgação de todos em se livrar de pessoas que viviam a margem da sociedade (vide uma negra ex-escrava, uma senhora idosa solitária e assim por diante). Foram no total 20 pessoas enforcadas (um foi morto de outra forma pior ainda).

Minha mãe em Salem



A cidade de Salém naquela época era uma vila pequena, isolada do resto do país. Hoje em dia é uma cidade pequena, mas que nada lembra uma pequena vila. O atrativo da cidade é praticamente todo relacionado a "bruxas", e no período de Halloween é praticamente impossível chegar-se lá, de tão cheia que fica a cidade. É uma cidade com bastante atrações pro seu tamanho, mas vale a pena uma visita. Abaixo tem as coisas que visitamos e outras que não tivemos tempo de ver:
- With trials museum: apesar do nome de museu é na verdade uma apresentação com "bonecos" (tipo do Madame Tussauds) numa sala bem grande, onde o narrador explica todos os acontecimentos desde o começo até a execução das pessoas. Depois uma pessoa explica sobre "bruxaria" no contexto atual, inclusive que existe uma religião reconhecida aqui nos EUA que é das "bruxas" e como o conceito de bruxa evoliu de maneira tortuosa. Na verdade parteiras e curandeiras eram consideradas bruxas, mas eram mulheres normais que ajudavam as pessoas com seus conhecimentos de ervas e plantas que aliviam um ou outro problema de saúde. Mostram também da "caça às bruxas" que acontece no mundo atual, onde certos segmentos da população são perseguidos e considerados impuros, sofrendo todo tipo de violência, exclusão e injustiças.
Na frente do Witch Trials Museum

- Judges house: a casa do juiz que julgou e condenou as pessoas à morte. Não chegamos a visitar, então não sei se é interessante.
- Memorial das vítimas: é um memorial super simples, de pedra, numa pracinha logo na frente do Peabody museum, com o nome e a história de cada pessoa que foi morta por ser considerada bruxa. (entrada gratuita)
- Cemitério ao lado do memorial: onde o juiz e outras pessoas estão enterradas (entrada gratuita)
- Witch village: uma réplica em tamanho natural da vila de Salém na época da caça às bruxas (não fomos)

A cidade tem também diversas outras atrações, como um calçadão com bares, restaurantes e lojas, a maioria sendo relacionada a Haloween e bruxas.
Almoçamos num restaurante delicioso, chamado Sea Level Oyster Bar, onde vale muito a pena comer.
Almoço em Salém


Outra atração que é das mais famosas e a "House of the 7 Gables". Eu não sabia nada desta casa até visitar Salem, a começar pelo significado da palavra "gable", que é aquele triângulo que se forma no telhado das casas quando do lados do telhado se juntam. Esta casa é famosa por causa do livro escrito por Nathaniel Hawthorne, um famoso escritor americano, descendente do juiz das caças ás bruxas. No livro ele conta a história de um crime que aconteceu naquela casa.
Fomos visitar a casa com minha mãe, e o bom é que tinha audio guide em português pra ela. Um guia vai nos levando pelos cômodos da casa e explicando que na verdade a casa sempre teve (e continua tendo) como objetivo ajudar pessoas da sociedade de Salem em diversas coisas, como oficina onde se pode aprender uma variedade de skills. Hoje em dia também fazem cerimônias de cidadania.

As portas da casa e o teto são rebaixados como nas casas de antigamente, que nem nas casas da Europa, e achei legal que o guia explicou que o motivo do teto ser rebaixado não é porque as pessoas eram mais baixas, mas sim pra conservar o calor, o que faz sentido. Da mesma forma as camas eram pequenas, e achávamos que  corroborava a idéia de que as pessoas eram mais baixas que hoje em dia, mas o guia explicou que naquela época era comum acharem que era necessário dormir de lado encolhido porque fazia bem pra saúde.
Um dos cômodos da casa

A casa foi restaurada e reformada diversas vezes durante os anos, e os cômodos são mobiliados da forma de antigamente, mas nada de luxo extremo como palácios de realeza, apesar de que praquela época a casa era uma mansão se comparada com as demais casas. O escritor Nathaniel morou na casa, que na verdade pertencia a prima dele, e a usou como inspiração pra escrever o livro com o nome "House of the 7 Gables". No começo dos 1900s uma mulher chamada Caroline Emmerton comprou a casa e reformou pra que ela se tornasse um museu, e adicionou algumas coisas na casa pra a mesma refletisse acontecimentos do livro (como uma escada escondida na parede pra justificar certo personagem aparecer do nada" na sala de jantar).
Voltando sobre a prima do Nathaniel, a dona da casa, ela herdou bastante dinheiro e virou mulher de negócios bem sucedida, administrando bem o patrimônio dela. Ela nunca se casou, pois sabia que se casasse todo o dinheiro dela passaria pro marido.

Na frente da casa tem um jardim bonitinho com vista pro mar (Salem é uma cidade no litoral) e do outro lado do jardim de a casa onde o escritor Nathaniel nasceu, que incrivelmente foi transportada do lugar onde ele nasceu (não lembro o nome da cidade) até ali, e hoje é um museu contando a história da vida e obra dele.

Jardim da House of the 7 Gables


Em Salém tem também o Peabody Museum, que dizem ser bem legal, mas nós não visitamos.

Terminamos a visita tomando um chá (outros café) e vendo a estátua da "Feiticeira", aquele programa de tv bem antigo que eu, minha mãe e irmãs adorávamos assistir quando pequenas.
O André comprou o livro House of the 7 Gables pra gente ler, mas ainda não comecei.

O vídeo da nossa visita a Salem está aqui: https://youtu.be/i5p2nueRYcQ

Saturday 11 May 2019

Walden Pond

Em junho de 2018 eu comprei um livro chamado Walden Pond, do escritor americano Henry Thoreau. O primeiro contato que tive com esta obra foi quando assisti o filme Sociedade dos Poetas mortos, há muitos anos atrás. Lembro bem da frase "“I went to the woods because I wished to live deliberately, to front only the essential facts of life, and see if I could not learn what it had to teach, and not, when I came to die, discover that I had not lived.", mas naquela época não tinha a menor idéia de que era parte de um livro. Na verdade eu só fiquei sabendo da existência deste livro e sabendo mais sobre o autor depois de ter me mudado pra Boston. Estava em Londres em 2018 e vi o livro Walden pra vender numa livraria em Trafalgar square, e resolvi comprá-lo. Foi o começo de o que pra mim uma longa jornada de leitura.
Não sou especialista na obra e não tenho pretensão de analisá-la, somente relatar o que eu gostei e a minha visita a Walden Pond.
O livro, de forma extremamente sucinta, é o relato super detalhado dos dois anos e pouco que Thoreau viveu numa cabana construída por ele mesmo em Walden Pond em 1845. No livro ele conta em bastante detalhes como ele construiu a casa, o que ele comia, como era a floresta, as flores, o lago e tudo ao redor durante as diferentes estações do ano. Muitas passagens são bem filosóficas, como a frase que coloquei no primeiro parágrafo deste post.
Comecei a ler o livro no mesmo dia que comprei em junho de 2018, sentada num Costa Cafe em Londres, e o terminei na praia em Floripa em fevereiro de 2019. Uma vez de volta Boston, aproveitei o primeiro dia de sol durante um fim de semana na primavera pra visitar Walden Pond.
Almoçamos na beira de um riozinho em Concord, cidadezinha charmosa com igrejas e casas pitorescas, cheias de lojas de antiguidades.
Poucos minutos de carro dali encontra-se Walden Pond. Tem um estacionamento pago no lado oposto de onde se encontra o lago.
O dia estava lindo e haviam diversas pessoas pegando sol nas áreas das margens do lago onde havia areia formando pequenas praias.  Havia inclusive diversas pessoas nadando no lago. Pelo que vimos é um lugar bem procurado no verão para aqueles que querem se banhar nas águas cristalinas do lago. Não esperava que o lago fosse tão grande nem tão bonito! Eu e o André (o Enee ficou em casa pois infelizmente não se pode levar cachorro lá) caminhamos pelo caminho demarcado nas margens em direção à área onde ficava a cabana que Thoreau construiu. Neste caminho pode-se observar e admirar a água cristalina e limpa do lago, muito bem descrita por Thoreau em Walden, durante as quatro estações do ano.
Logo na frente onde era a casa de Thoreau o lago forma uma enseada e a cor da água é verde esmeralda. O local onde ficava a casa hoje é demarcado por pedras.
Náo pude deixar de pensar se as árvores ao redor do local eram as mesmas da época de Thoreau, pois é legal imaginar que eu poderia estar olhando a paisagem que o inspirou tanto. Bom, mesmo não tendo sido as mesmas árvores, o lago é o mesmo que o inspirou!
Em outra oportunidade quero voltar e caminhar ao redor do lago todo, caminhada que deve durar cerca de 1:30, mas como o Enee já estava sozinho faz tempo resolvemos deixar esta caminhada pra outro dia.
Vi algumas pessoas sentadas na beira do lago lendo, e imagino que estavam lendo Walden. Que boa idéia ler o livro nas margens do lago que serviu de scenário pro escritor!
Um colega meu que fez faculdade de filosofia me ensinou  que o livro foi uma resposta a revolução industrial, o que faz sentido, pois ele queria viver de forma simples, sem se preocupar em ter a maior casa, ou os melhores móveis, ou o melhor jardim, ou se matar de trabalhar pra competir com os demais sobre quem teria as melhores coisas.
No estacionamento pode-se visitar uma réplica da casa que ele constriu e ver como ele viveu de forma modesta.
Parte do motivo que demorei tanto pra ler o livro é que é meio... digamos... chato e muitas partes, mas fiquei feliz que persisti e li até o final e tirei minhas conclusões sobre a leitura e a mensagem do livro. Serviu-me também para alimentar minha curiosidade que me levou a conhecer um lago muito bonito.
Da próxima vez que for a Concord quero visitar o museu sobre o autor.

Filme do passeio: https://youtu.be/i0cqLn_83Z0




Visita a Ilha do Campeche

 Sabe aquela história que se repete em todos os lugares, onde as pessoas só fazem turismo em lugares que não são onde elas moram? Existem pa...