Sunday 23 June 2019

Little Women e Louisa May Alcott

Quando eu era adolescente eu lembro de ter assistido um daqueles filmes antigos, que passavam na sessão da tarde, do qual eu havia gostado bastante, pois era sobre 4 irmãs e suas histórias, dia-a-dia, brigas, tristrezas e alegrias. Como eu tenho duas irmãs me identifiquei bastante com o filme. A Elizabeth Taylor era uma das meninas, pra ver quão antigo era o filme! Eu não lembrava o nome do filme e não foi até ter assistido um episódeo do seriado Friends há diversos anos atrás, no qual eles comentam sobre o livro e a história, que eu acabei descobrindo que o filme era baseado no livro chamado Little Women (Pequenas Mulheres - no sentido de juventude). Quando morava na Nova Zelândia eu comprei e li o livro, e logo em seguida eu assisti uma versão mais nova do filme. Como já era adulta (20 e poucos anos) eu consegui perceber certos temas abordados na história que na época de adolescente eu não conhecia e consegui aproveitar melhor a história, mas ainda mantendo o mesmo interesse de quando eu vi a versão mais antiga do filme.

Jardim logo na entrada da casa


A introdução acima foi pra explicar o motivo que eu me interessei em visitar a casa da autora do livro, Louisa May Alcott, que hoje em dia é um museu sobre o livro, a autora e sua família. A casa fica na cidade de Concord, MA, menos de 30 minutos da minha casa. Eu já relatei um pouco sobre essa cidade e sua importância na história da independência dos EUA, mas à medida que vou me educando sobre tal história, seu personagens, e lendo livros de autores americanos de época similar, vou entendendo cada vez mais sobre este país do qual eu não sou fã, mas que tem história tão fascinante e complexa, e confesso que aos poucos tenho me interessado em aprender cada vez mais sobre essa região onde estou morando.

A casa da família Alcott fica numa área bem verde logo antes da cidade de Concord. A família dela era adepta do transcendentalismo, que eu nem conhecia a respeito. O estilo de vida deles e seus ideais bem progressistas, até para os dias de hoje: eram veganos, defendiam crescimento sustentável, proteção ao meio ambiente, eram adeptos do abolicionismo (naquela época ainda havia escravidão nos EUA), e do feminismo, tanto quee as 4 meninas da família eram tratadas como os seres humanos capazes que eram, numa época onde mulher não recebia nenhuma educação, e duas delas tornaram-se grande artitas. O pai dela era professor, escritor e intelectual, e inclusive abriu uma escola de filosofia ao lado da casa dos Alcotts. Como é típico de pessoas deste estilo, ele era inteligente e tinha excelentes idéias, mas não conseguia ganhar dinheiro o suficiente pra sustentar a família. Este foi um dos motivos que as meninas tinham pra se tornar melhores nas suas artes de escolha e vender seus trabalhos, pra ganhar dinheiro. A Louisa tornou-se escritora e a mais nova das 4 irmãs, May, era artista. Era uma excelente pintora e escultora. A casa museu tem vários quadros pintados pela irmã mais nova, que foi treinada na Europa, sendo que um deles foi exibido no museu do Louvre por um tempo. Inclusive May foi quem apresentou o escultor Daniel Chester French as suas ferramentas de esculpir e o ensinou o básico. Mais tarde ele esculpiu diversas estátuas "importantes", como a de Abraham Lincoln (no memorial na capital Washington) e de John Harvard (da universidade de Harvard onde todo mundo até hoje coloca a mão no sapato como forma de pedir inteliência e bate uma foto).

Louisa escreveu o livro Little Women naquela casa, numa mesa de madeira que o pai construiu pra ela. As histórias que ela contou no livro foram realmente histórias dela e das irmãs delas, que aconteceram em outra casa, mas que ela resolveu contar como se tivessem acontecido naquela casa. Uma das irmãs dela, a "Beth", que morreu no livro, realmente faleceu na vida real e nem chegou a morar naquela casa. O casamento da irmã dela realmente aconteceu na sala daquela casa, e teve como convidados nada mais nada menos que escritores como Henry Thoreau, Emerson e Nathaniel Hawthorne como convidados. Eu achei o máximo que eu conhecia sobre a história de Nathaniel Hawthorne (vejam meu post anterior sobre a visita a cidade de Salem) e sobre Thoreau (vejam meu post sobre a visita a Walden Pond), e inclusive percebi como a gente aproveita mais os passeios quando tem contexto e sabe da história. Por exemplo, a guia contou que Louisa comentou que Thoreau sabia descrever a natureza como ninguém. Pra quem leu Walden, isso faz todo sentido. Pra quem não leu, é uma declaração sem importância fácil de esquecer.

Louisa mudou poucas coisas da realidade no seu livro, mas uma delas foi que não foi o pai dela que serviu na guerra, mas sim ela, que serviu como enfermeira e inclusive escreveu um livro de relatos sobre essa experiência. Ela pegou febre tiphoide e teve que se tratar com mercúrio. Desde então a saúde dela nunca mais foi a mesma e ela passava a maior parte do tempo confinada no quarto dela. Logo ela, que era super ativa e inclusive baseou a personagem Jo do livro nela, e queria sempre estar correndo, subindo em árvores etc. Deve ter sido muit difícil.

Ela nunca quis se casar, pois acreditava que casamento tirava a liberdade da mulher (naquela época com certeza, e hoje em dia pra muita gente ainda é assim), e queria a mesma coisa pra Jo no livro. Só que a editora forçou-a a casar a personagem Jo e ela não teve escolha: teve que fazê-la casar-se. Outra história interessante sobre como o livro foi publicado é que não é o tipo de história pela qual homens e meninos se interessem. O editor nem conseguiu terminar o livro parece, mas deu pra sobrinha dele ler, e ela adorou o livro e ele percebeu que as demais mulheres da família também. Foi aí que ele viu o potencial do livro.

Casa dos Alcott

Construção ao lado da casa, que foi a escola de filosofia


Na casa a gente visita ambientes como a cozinha, que tem um tanque que a Louisa comprou por $100 na época, salário anual do pai dela. Ela ficou famosa e rica em vida com a venda dos seus livros. O escritório do pai dela é outro lugar interessante, onde ele recebia pessoas do seu círculo pra discutir idéias abolicionistas, e inclusive secretamente recolheram dinheiro pra ajudar John Brown, de quem eu nunca tinha ouvido falar e fui ler a respeito do seu papel no movimento abolicionista dos EUA.

Depois da visita eu e minha colega Karen comos até o centrinho de Concord pra ela conhecer, e almoçamos por ali mesmo. Era um dia lindo de sol, calor, e nos sentamos no mesmo lugar onde fui com minha mãe quando ela veio pra cá me visitar. A Karen é de San Diego e falou que detesta o frio de Boston também.
Almoço em Concord


Eu não tinha muitas expectativas sobre a visita na casa da Louisa May Alcott e não tinha idéia sobre o contexto famíliar e círculo social do qual eles faziam parte. Tudo o que eu aprendi nesta visita sobre a vida dela e de sua família me fascinou. O fato de eu saber sobre eventos e pessoas daquela mesma época, que tiveram suas histórias interlaçadas com a dela, tornou a visita mais empolgante ainda.

Vi que a Greta Gerwig dirigiu uma nova versão de Little Women, a ser lançada em Dezembro deste ano, e que diversas cenas foram filmadas ali. Mal posso esperar pra assistir!

https://www.imdb.com/title/tt0041594/ - o que eu assisti quando adolescente, com a Elizabeth Taylor
https://www.imdb.com/title/tt0110367/ - o que eu assisti depois de ter lido o livro, com a Winona Ryder, Susan Sarandon e Kirsten Dunst

No comments:

Post a Comment

Visita a Ilha do Campeche

 Sabe aquela história que se repete em todos os lugares, onde as pessoas só fazem turismo em lugares que não são onde elas moram? Existem pa...